Diante de um cenário de incertezas econômicas e juros altos, muitas pessoas acabam se endividando e os motivos são os mais variados: desde suprir necessidades básicas, como alimentação e acesso a moradia, como também realizar compras de bens duráveis e até abrir negócios. De acordo com recente pesquisa da CNDL (Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas) e do SPC Brasil (Serviço de Proteção ao Crédito), 67 milhões de brasileiros estão na inadimplência, sem conseguirem deixar as contas em dia.
Em parte, isso é resultado da falta de planejamento na hora de realizar os gastos, ou pior, muitos brasileiros compram mesmo sabendo que não terão condições de arcar com os produtos e serviços adquiridos ou contratados.
“A primeira coisa que precisamos fazer para sair da inadimplência é entender que o problema não é a dívida. Por exemplo, não adianta renegociar a dívida e pegar um consignado para quitá-la, se logo em seguida, fará outro débito. É como se você tivesse uma ferida que está cicatrizando, mas assim que forma a casquinha, vai lá e arranca. É uma casa pegando fogo que o bombeiro até vem para apagar o incêndio mas não investiga e trata a causa”, comenta Leandro Gomes, planejador financeiro e sócio do Vista Fintech.
Com o cenário econômico oscilando, o futuro ainda é incerto. A taxa básica de juros, a Selic, só deve começar a recuar, gradualmente, em agosto deste ano, por exemplo. E tudo isso tem impacto direto no bolso dos consumidores e empreendedores, por isso, Leonardo Gomes diz que a saída é colocar o pé no freio, organizar as finanças, planejar e economizar e, só então, gastar.
“O problema não é a dívida, é sempre o endividado. Então, precisa ser tratado desde a raiz, para que dessa forma você entenda o que te levou até esse momento e, assim, criar consciência do caminho que você não pode retrilhar”.
O especialista participou do episódio #88 do Varejo S.A. Podcast, publicado hoje (21), e em bate-papo com Daniel Sakamoto, gerente executivo da CNDL, deu dicas para os brasileiros sairem do endividamento e começar a se programar para tirar os sonhos do papel.
Aumenta o som e ouça o episódio:
Dica de ouro
Para o especialista em planejamento financeiro, a primeira e mais valiosa dica é olhar para si e avaliar qual é o tipo de problema que você tem. “Às vezes a pessoa tem o controle financeiro total da vida dela, sabe quanto ganha e quanto gasta, mas ela não consegue evoluir. Essa pessoa não tem um problema de controle, e sim um problema comportamental com o dinheiro”, explica.
Estar com as contas em atraso é um problema que afeta não apenas a vida financeira, mas também a saúde física e mental dos endividados. É o que mostra o levantamento da CNDL e do SPC Brasil: nove em cada dez inadimplentes (97%) afirmaram ter sofrido com algum tipo de sentimento negativo ao descobrir que estavam endividados. O mais citado foi a ansiedade, que atingiu sete em cada dez entrevistados (78%), seguido de angústia (75%), stress ou irritação (71%), vergonha (71%) e tristeza e desânimo (69%).
Segundo o site Psicólogo e Terapia, há casos nos quais as pessoas gastam por impulso ou como forma de escape dos problemas. É uma falsa válvula de escape que, na verdade, é uma bomba prestes a explodir.
Conhecimento é poder
Após entender qual é o nosso tipo de problema, olhando primeiro para si, o segundo passo é buscar conhecimento em educação financeira. “Não temos controles sobre os fatores externos, como por exemplo, o valor das coisas ou até mesmo dos juros. Quando investimos em educação financeira, passamos a entender melhor como aquele mecanismo funciona, e desta maneira, conseguimos nos ‘blindar’ desses fatores externos. Assim, a pessoa passa a ter mais consciência e realizar um planejamento financeiro que seja condizente com a realidade dela”, afirma Gomes.
Esse conhecimento que Leonardo cita, muitas vezes, pode ser adquirido de maneira gratuita através da internet. Sites como o da CNDL, do Sebrae ou mesmo aqui, no portal Varejo S.A., possuem uma série de conteúdos que podem ser acessados sem nenhum tipo de custo e estão ali para orientar, especialmente, pessoas jurídicas.
Saia do automático
“Temos o hábito de agir de forma automática na nossa vida. Por exemplo, quando dirigimos de volta para casa, não pensamos no caminho, apenas pegamos o carro e seguimos, porque aquilo já faz parte da nossa rotina”, aponta o planejador financeiro.
O pensamento e o comportamento automático é confortável para o nosso cérebro, e várias atitudes econômicas são influenciadas por esse fator. Sair do automático não é fácil, mas com pequenas mudanças no dia a dia, como analisar se podemos ou não realizar um gasto ou até fazer uma pesquisa de preços, já é sair um pouco dessa rotina. Para a verdadeira mudança, precisamos da ação, buscar pensar de uma outra forma na hora de realizar qualquer gasto financeiro e mudar o comportamento. “Não é só anotar os seus gastos, é analisar toda a situação antes de efetivar o pagamento final”, pontua Leandro.
Criar uma reserva é fundamental
Defina um valor ideal para ter na sua reserva. Este montante deve ser capaz de te respaldar, caso algum imprevisto aconteça. Neste sentido, investigue todos os seus gastos essenciais. O sócio do Vista Fintech comenta que a conta pode ser feita usando os gastos essenciais de três meses e fazendo a média deles. Após descobrir o valor, determine o caminho que irá percorrer para conquistar a tua reserva. “Planeje a longo prazo e não para o próximo mês! Isso é fundamental para que o plano que traçar funcione”, alerta o especialista.
Emocional em dia, dívidas em dia
Quais foram as decisões tomadas no passado que fizeram com que você estivesse endividado hoje? Quais decisões ainda toma com base nos critérios do passado? Após essa investigação, entenderá melhor os seus cenários e gatilhos e começará a realizar a mudança, tirando-a do papel e a tornando palpável.
Dica extra
Faça um controle detalhado do que entra e sai. Essa prática te ajudará a visualizar melhor a maneira como gasta o dinheiro, verificando o que está te levando ao endividamento. Identifique ainda quais são os gastos essenciais, o que são gastos extras e os gastos emocionais.
Edição: Fernanda Peregrino